16 de setembro de 2014
Onde as bicicletas encontram a cidade
Gazeta de Pinheiros, 12/09/2014
Os benefícios de se integrar as bicicletas ao cotidiano da região
Por Amália dos Santos, urbanista e colaboradora
Há poucas semanas, foi inaugurado o bicicletário público do Largo da Batata, localizado ao lado da estação Faria Lima do Metrô. Esse equipamento permite que o usuário do transporte público chegue até essa área de bicicleta, guarde-a e possa pegar ônibus ou metrô por ali, ampliando as possibilidades de uso da rede de transportes.
O prédio, que abriga o estacionamento, um bebedouro e uma floricultura, conta com 100 vagas para as bicicletas. Até o dia 20 de agosto, o sistema de cadastro para uso possuía 555 ciclistas registrados e já tinha realizado 800 estacionamentos. Por dia, a média de uso é de quase 45 vezes – ou seja, ainda há grandes possibilidades de intensificar a utilização do bicicletário.
Leia mais sobre as ciclovias do Alto de Pinheiros
Para dar mais informações sobre o equipamento e sua inserção dentro da política de mobilidade da Prefeitura de São Paulo, conversamos com o arquiteto e assessor Eduardo Pompeo Martins, confira a seguir.
Gazeta de Pinheiros – Como foi o processo de projeto e construção do bicicletário do Largo da Batata?
Eduardo Pompeo Martins – Por ser alimentada por uma ciclovia, a estação Faria Lima (Linha Amarela do Metrô) apresenta uma condição muito favorável de acesso por meio da bicicleta, porém não contava com um bicicletário, prejudicando a integração entre esses dois meios de transporte. Essa condição motivou a reivindicação de movimentos ligados à bicicleta, resultando em um abaixo-assinado com 22 mil assinaturas.
A demanda foi endereçada ao Metrô e a diversos órgãos da Prefeitura. Diante da negativa do Metrô/ViaQuatro e CPTM em construir e manter o bicicletário, a Prefeitura assumiu o projeto e foi desenvolvido um modelo de bicicletário público, como um piloto, que pudesse ser replicado em outros locais da cidade.
Após alguns estudos iniciais realizados pela São Paulo Urbanismo (SPUrb), o modelo de funcionamento da estrutura foi pactuado com os cicloativistas e associações de moradores [incluindo a SAAP] (organizadores do abaixo-assinado), inclusive seu local de implantação. Definidos esses pontos principais, o projeto executivo foi desenvolvido pela SPUrb e a obra conduzida pela SPObras.
O objetivo era apresentar com clareza o bicicletário como componente da infraestrutura cicloviária da cidade, diretamente ligado à ciclovia e à estação. Ao mesmo tempo, não se podia descaracterizar espacialmente a nova praça, nem obstruir as visuais recém-conquistadas para a igreja. Além da guarda de bicicletas, propusemos um programa complementar – a floricultura – que tem como objetivo contribuir para a ativação do espaço público.
Trata-se de uma aposta na vigilância passiva em substituição à presença policial ostensiva como forma de construir o domínio público no local. Até o momento, a resposta vem sendo positiva.
GP – Como você enxerga as recentes reações negativas à implantação de ciclovias nas áreas centrais da cidade?
EPM – Entendo que são naturais e, em certa medida, esperadas. Toda mudança dessa natureza provoca reações negativas de alguns setores em um primeiro momento. Foi assim com as faixas exclusivas de ônibus na fase de implantação e hoje os resultados positivos e a aceitação são sensíveis.
A população já está incorporando a bicicleta como meio de transporte para seus deslocamentos diários. Como parte do projeto do bicicletário, estamos monitorando junto com a CET o número de ciclistas que utilizam a ciclovia da Faria Lima. Comparando medições feitas em abril e agosto deste ano (menos de quatro meses de intervalo) observamos um aumento de 37% no número de ciclistas!
Isso não se deve apenas à implantação do bicicletário, mas a um conjunto de ações coordenadas do poder público e a colaboração das entidades civis. Portanto, acredito que atuando dessa forma veremos uma rápida mudança, para melhor, no uso da bicicleta como meio de transporte na cidade.
*Dados de tráfego de bicicletas na ciclovia da Av. Faria Lima (Fonte: Prefeitura de SP e CET)
Antes | 28/abr | ||||
Horário | Período | Total bicicletas | Bicicletas comuns | Bike share | Bicicletas de carga |
7:00-10:00 | Manhã | 238 | 189 | 18 | 31 |
16:00-19:00 | Tarde | 237 | 211 | 16 | 10 |
Total | 475 | 400 | 34 | 41 | |
Depois | 11/ago | ||||
Horário | Período | Total bicicletas | Bicicletas comuns | Bike share | Bicicletas de carga |
7:00-10:00 | Manhã | 324 | 267 | 30 | 27 |
16:00-19:00 | Tarde | 328 | 267 | 52 | 9 |
Total somado | 652 | 534 | 82 | 36 | |
Comparação | |||||
Total bicicletas | Bicicletas comuns | Bike share | Bicicletas de carga | ||
Diferença (%) | 37,26% | 33,50% | 141,18% | -12,20% |
GP – Em palestra recente, realizada na USP e promovida pelo grupo Cidade Ativa, a Prof.ª Karen Lee, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de Toronto e Alberta (Canadá) e consultora do Projeto “Built Environment & Healthy Housing” do Departamento de Saúde e Higiene Mental de Nova Iorque (EUA), afirmou que a maior variedade de opções de transporte (incluindo bicicletas e locomoção a pé) resulta em melhores condições de saúde para a população, favorece o fortalecimento das comunidades e gera rendas para a cidade, por conta da melhoria geral das condições de acesso e mobilidade. Podemos dizer que esses objetivos estão na agenda da Prefeitura?
EPM – Sem dúvida. Em primeiro lugar, pela priorização de forma contundente do transporte público e dos meios de transporte não motorizados (corredores de ônibus, faixas exclusivas e ciclovias) – no que se enquadra a implantação do bicicletário.
No âmbito do planejamento de médio e longo prazo, o Plano Diretor Estratégico (PDE) aponta com clareza a necessidade de combinar políticas de mobilidade urbana com o regramento de uso e ocupação do solo, intensificando os usos urbanos nos locais de maior acessibilidade por transporte público. Não menos importante, o PDE indica alguns parâmetros fundamentais para a construção de melhores espaços públicos, como largura mínima para calçadas e incentivo à “fachada ativa” no térreo dos edifícios, reconciliando os empreendimentos privados com o passeio público.
Na direção do fortalecimento dos espaços públicos, podemos destacar os decretos que regulamentam os parklets (transformação de vagas de estacionamento na rua em pequenas praças, que pode ser visto em: http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/parklets/), comida de rua e artistas de rua.
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