7 de maio de 2021
Como cuidar da saúde mental na pandemia

Pedro Wroclaw/Pixabay
Veio a primeira onda, veio a segunda, sabe-se lá se haverá uma terceira. O fato é que a covid-19 já matou mais de 400 mil pessoas no Brasil. Ceifou vidas, empregos e empresas – trouxe más notícias com frequência poucas vezes vista. Não é por acaso que alguns especialistas já falam numa outra onda, que começou logo após a primeira grande leva de infecções pelo novo coronavírus e não dá sinais de abrandamento: a de problemas ligados à saúde mental.
O contato frequente com a morte (muitas vezes, de pessoas próximas), a restrição ao convívio frente a frente com amigos, familiares e colegas de trabalho, as perdas financeiras causadas por desemprego, falência ou redução de salário, o home office e a confusão entre espaços e horários dedicados ao trabalho e à família, o acirramento de conflitos familiares… São muitos os fatores pelos quais a pandemia pôs a vida de todos de cabeça para baixo – a ponto de ser difícil até considerar que é possível “manter” a saúde mental.
Mas o que se pode fazer, então? Conversamos sobre o tema com o psiquiatra Primo Paganini, médico formado pela USP e diretor da consultoria Primus Medical Consulting, que oferece cursos e treinamento na área de saúde mental. Ele esclareceu como o contexto atual causa danos ao cérebro e deu dicas para lidar com o problema.
Covid-19 e saúde mental
A pandemia prejudica a saúde mental de duas principais maneiras, explicou Paganini. Uma diz respeito às pessoas infectadas. Em parte delas, pode-se observar o que os médicos chamam de neurotropismo do Sars-CoV-2: o vírus entra pelas narinas, invade o cérebro e causa uma tempestade inflamatória – aumenta a inflamação, causando lesões cerebrais e reduzindo a produção de substâncias que ajudam a deter, por exemplo, a depressão e a ansiedade.
Outra maneira é por vias, digamos, indireta – que também pode afetar quem pegou o vírus. O psiquiatra ensina: “É normal de vez em quando ficar estressado, ansioso, e ativar nossos eixos hormonais ligados ao estresse. Mas a pandemia ativou esses eixos de estresse quase 24 horas por dia. Com isso, as regiões mais evoluídas do cérebro são impactadas, as mais primitivas ficam impulsionadas. O nível de irritação, o nível de negação, aumenta.”
Paganini afirma que um dos hormônios afetados é o cortisol, relacionado ao estresse. “Em grande quantidade, ele é tóxico e prejudica a produção de hormônios ligados a boas sensações, como serotonina, dopamina e endorfina. Isso tende a levar à depressão, à ansiedade, aos estresse pós-traumático.”
O que fazer: entenda que é normal não estar normal
Estamos num momento tristemente histórico. Não há por que cobrar de si mesmo um bom-humor contínuo. “A pandemia nos faz olhar para a mortalidade, tira nossa posição de super-homem, de mulher-maravilha. É saudável ficar triste, ter medo. O ponto é o que fazer a partir daí”, diz o psiquiatra. “Tem gente que tenta criar uma positividade artificial – mas isso acaba virando sintoma depois.”
O que fazer: não durma pouco
O médico salienta que é importante dormir bem, entre 7 e 8 horas por noite (Alto dos Pinheiros ajuda: grande parte das vias são silenciosas durante a noite). “Enquanto a gente dorme, o cérebro se recupera, produz substâncias químicas necessárias para o dia seguinte. Elimina beta-amiloide (que pode causar alzheimer), as células se repõem, a pressão sanguínea cai, a pressão cardíaca também – o que é muito saudável.”
O que fazer: mantenha contatos
“Somos uma espécie gregária”, resume Paganini. Ainda que não seja prudente encontrar as pessoas de modo presencial, ligue para elas. “Isolamento físico não significa isolamento afetivo. Convém usar e abusar da tecnologia para ter contato com os outros: videochamadas, WhatsApp…”
O que fazer: mantenha a autoestima
Não é porque você está trabalhando de casa que não precisa se cuidar. “Cuidar de si faz bem para a saúde psíquica”, diz Paganini. “Eu, por exemplo, gosto muito de usar terno. Me faz bem o ritual de escolher qual camisa vai combinar com qual gravata, por exemplo. Então, nas reuniões com Zoom, nas aulas que eu dou, faço questão de colocar”, conta ele. “Se a mulher for vaidosa, faça uma escova, passe batom antes de entrar numa videochamada”, exemplifica.
O que fazer: dedique-se a atividades de que gosta
Atividades físicas, leitura, filmes, cozinha: abra um tempo na sua rotina para fazer aquelas coisas que lhe dão prazer. “É importante também ter alimentação adequada e hidratar-se”, afirma o médico.
Para quem gosta de caminhar, correr ou pedalar, nosso bairro é um privilégio. Com máscara e distanciamento social, pode-se facilmente percorrer nossas lindas praças e parques, nossas ruas arborizadas e as diversas ciclovias.
O que fazer: peça ajuda
Se estiver com dificuldade de lidar com as tensões e ansiedades, não tenha receio de procurar um profissional. “A pandemia está mostrando como o brasileiro valoriza pouco a saúde mental. É preciso perder o medo, a psicofobia – aquela ideia de que ir ao psicólogo ou ao psiquiatra é coisa de louco”, adverte Paganini.
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