19 de novembro de 2021
As calçadas de Alto dos Pinheiros, sob o olhar de quem tem dificuldades de locomoção
Há muitos modos de encarar as calçadas de Alto dos Pinheiros. Para quem caminha pelo bairro, elas podem ser uma série de trechos geralmente bem cuidados e com paisagismo caprichado. Os donos de cachorros devem adorar os extensos trechos cobertos de grama, que não esquentam nem machucam as patas dos cães. Quem corre talvez se incomode com o desnível de algumas passagens ou a altura de alguns galhos. E quem tem dificuldades de locomoção?
Conversamos com a administradora Regina Camargo, cuja filha adolescente, Irene, padece de problemas motores nas pernas desde o nascimento prematuro. A garota de 14 anos precisa usar triciclo ou andador para se deslocar – e muitas vezes acaba se arriscando nas ruas para fugir das irregularidades da área de passeio.
“Nossas calçadas foram construídas em uma época em que a preocupação era apenas com o verde, não com a acessibilidade”, avalia Regina. “Temos muitos arbustos que invadem o espaço do pedestre e placas de concreto intercaladas com faixas de terra, o que cria ‘degraus’ que minha filha não consegue passar com o triciclo e que são perigosos para quem tem mobilidade reduzida.”
Ela ressalva que há residências com calçadas bem-feitas. Mas, por não haver padronização, ficam intercaladas em meio a outras que apresentam problemas. O resultado? É impossível percorrer uma rua em que todo o trajeto seja transitável. Assim, como as atividades físicas são essenciais para a saúde de Irene, a jovem se vê obrigada a se exercitar todos os dias sobre o asfalto.
“Nos últimos tempos, passamos a ter um trânsito mais movimentado, pois os aplicativos jogam os motoristas para o meio do bairro. Como a Irene não consegue usar as calçadas e as ruas tornaram-se perigosas durante o dia, ela só consegue sair à noite”, lamenta Regina.
Irene não é um caso isolado. Alto dos Pinheiros é a região com maior concentração de idosos de São Paulo. Os que dependem de andador para caminhar, ou os que precisam andar apoiados em outra pessoa, dificilmente não têm de andar no asfalto. Uma das poucas exceções são as pistas para pedestres, como a existente no canteiro central da av. Professor Fonseca Rodrigues.
“Vejo alguns senhores que simplesmente deixaram de caminhar e se recolheram em suas casas em razão da manutenção ruim e da falta de segurança das calçadas. Somos um bairro com muitas pessoas na terceira idade, e mesmo quem é jovem um dia vai envelhecer e enfrentar limitações. Então a acessibilidade não é uma questão que afeta apenas a minha filha ou os idosos, mas diz respeito a todos”, defende a administradora.
O que dizem as normas?
De acordo com o manual de calçadas, elaborado pela Comissão Permanente de Acessibilidade da Prefeitura, calçadas novas ou reformadas devem ser feitas de concreto armado (as que não têm irregularidades podem permanecer como estão). Além disso, a faixa de passeio não pode ter degrau e deve ter ao menos 3 metros de altura livres de construções, 2,10 metros de altura livres de instalações como placas e toldos e 1,2 metro de largura como faixa livre. Aqueles que não seguem as regras estão sujeitos a multa. Leias instruções para regularizar a calçada de sua residência.
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