8 de outubro de 2013
Urbanista propõe quadras metropolitanas para organizar região
Gazeta de Pinheiros, 4/10/2013
A nova minuta do Plano Diretor Estratégico (PDE) foi encaminhada à Câmara Municipal na semana passada pelo prefeito Fernando Haddad. Entre as principais propostas que constam no projeto está o adensamento de áreas próximas a eixos de transporte, como corredores de ônibus e linhas de metrô e trem. Dessa maneira, a jornada diária de muitos paulistanos entre a casa e o local de trabalho, e vice-versa, seria encurtada consideravelmente.
No entanto, para o arquiteto e urbanista Nadir Mezarani os espaços próximos às redes de transporte podem ser mais bem aproveitados se levada em consideração algumas alternativas que à primeira vista aparentam ser ousadas, como, por exemplo, as “Quadras Metropolitanas”. Confira a seguir:
Gazeta de Pinheiros – O que são as Quadras Metropolitanas?
Nadir Mezarani – Quando subimos no Edifício Itália, no centro, vemos que São Paulo é uma mancha urbana extensa e os prédios estão em áreas densas, aglutinados ao lado de outros e de imóveis térreos, como casas. Para proporcionar um ambiente urbano menos ‘sufocado’, proponho um adensamento por meio das Quadras Metropolitanas, que consistem em grandes edificações multiuso e centralizadas em áreas verdes e abertas. Isto permitiria que entre um quarteirão e outro existisse um espaço para que os bairros possam ‘respirar’. Seria uma espécie de ‘verticalização saudável’.
Edifício operacional da Estação Fradique Coutinho / Grupo 1 de Jornais
GP – Onde este conceito poderia ser aplicado na região?
NM – O Plano Diretor Estratégico propõe o andesamento próximo a redes de transporte. Assim, na área onde é construída a futura Estação Fradique Coutinho do Metrô poderia ser implantada uma Quadra Metropolitana. Apenas como diretriz em um modelo de visualização da ideia em questão foi considerada de utilidade pública o quarteirão formado pelas ruas dos Pinheiros, Tecaindá e Auriflama, além da Avenida Rebouças, compreendendo aproximadamente 20 imóveis.
Os ocupantes dos antigos imóveis seriam realocados em uma parte deste edifício, enquanto a outra poderia ser comercializada pela iniciativa privada. Caso o proprietário ou inquilino viesse a discordar da compensação oferecida pelo poder público, este teria a obrigação de desapropriá-lo com valores justos, com base na futura valorização após as obras.
No que se refere às condições reais da Estação Fradique Coutinho, foram demolidas oito casas para que fosse viabilizada, a fim de baratear o custo do projeto em prol da qualidade no meio urbano onde está inserida.
Assim, as Quadras Metropolitanas poderiam ser aplicadas na expansão dos sistemas de metrô, trem e ônibus pela cidade sem desfigurar a zonas residenciais lindeiras. Um edifício público deve se contextualizar à paisagem urbana local, recriando esta paisagem.
GP – Como avalia a atual Estação Fradique Coutinho?
NM – Quando o projeto foi iniciado não se levou em consideração um conceito urbanístico. Basta observar o prédio de acesso à estação. Quando inaugurada, os usuários ao saírem dela poderão obstruir a circulação dos pedestres na calçada, já que o antigo recuo das casas que havia no local foi sobreposto pela fachada do novo imóvel. Além disso, as laterais da estrutura tendem a bloquear a visão de quem deixa a estação, pois também avançam sobre o passeio público.
Portanto, este modelo está errado, pois qualquer intervenção do poder público deveria ser um indutor de qualidade urbana. O prédio da estação provoca contraste não só com as pequenas edificações do entorno, mas com aquelas que certamente serão construídas ao seu redor.
GP – Na Avenida Pedroso de Morares está prevista a futura Linha 20 – Rosa do Metrô. Como preservar as áreas do entorno das estações no Alto de Pinheiros?
Entendendo questões de contextualidade urbanística, podemos afirmar que uma linha de metrô na Pedroso de Moraes deve prever estações que sejam literalmente “enterradas”, sem edificação, junto com suas demais funções e sem destruir o canteiro central. Dessa maneira, não iremos desfigurar uma zona residencial lindeira.
GP – O novo Plano Diretor proporcionará qualidade de vida por meio do adensamento de áreas ao longo das linhas de transporte?
NM – A concepção da proposta é correta, mas este adensamento não pode chegar apenas depois do traçado das linhas de metrô a serem definidas. Caso contrário, estaremos favorecendo a especulação imobiliária. A cidade deve nortear os rumos do transporte. Hoje a iniciativa privada assumiu este papel por meio de diversos recursos como as outorgas onerosas*.
O alto grau de dificuldade da mobilidade urbana que a cidade de São Paulo enfrenta é tão nocivo, que a população, sob caos em quilômetros de congestionamento diário, “aceita” o sistema em obras elevadas como o monotrilho, que será em muitos locais prejudicial à paisagem.
Por isso acho que o Município precisa investir também no transporte sobre trilhos, para melhor conduzir o desenvolvimento dos bairros, onde as pessoas precisam conviver próximas das outras e, assim, organizar melhor a sociedade.
*Outorgas Onerosas são taxas que autorizam construções além dos limites estabelecidos pelas leis de zoneamento.
Entrevista: Diego Gouvêa
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