21 de outubro de 2013
Novo Largo da Batata frustra autor de projeto urbanístico
Gazeta de Pinheiros, 11/10/2013
Arquiteto e urbanista, Tito Lívio venceu em 2001 concurso da Prefeitura que escolheu projeto de revitalização do centro de Pinheiros
O Largo da Batata, região central de Pinheiros, passa por uma nova fase de mudanças. O cenário caótico que se consolidou durante anos 90 no local, com camelôs irregulares e pontos de ônibus por todos os lados, já pode ser considerado pelos moradores do entorno como parte da história.
No momento, acontece a tentativa de tornar realidade aquele que talvez seja o projeto urbanístico mais ousado dos 459 anos da capital paulista. Financiada com R$ 145 milhões da Operação Urbana Faria Lima, a intervenção ganhou os primeiros traços após um concurso promovido pela Prefeitura de São Paulo em 2001, que foi vencido pelo arquiteto e urbanista Tito Lívio.
Porém, em entrevista à Gazeta de Pinheiros – Grupo 1 de Jornais, ele não esconde a frustração sobre as diferenças das obras em relação a sua ideia concebida no papel. Confira a seguir:
Tito Lívio – Foi um concurso bem elaborado, com muitos participantes, cerca de 80 ou 90 inscritos. O que determina o vencedor deste tipo de concurso é a compreensão clara daquilo do que é proposto no edital, sobre o que a cidade quer e sobre o que é possível fazer.
GP – Qual era o potencial urbanístico do Largo da Batata estudado para o desenvolvimento do projeto?
TL – O próprio edital do concurso já abordava os potenciais da região, tanto que se chamava reconversão urbana. Ao longo do tempo, o Largo da Batata se transformou em um terminal de ônibus a céu aberto. Em decorrência disto havia um trânsito de pedestres, que atraia o comércio irregular e que tornava o bairro decadente.
Existe uma tese urbanística de que cidades do porte de São Paulo têm várias centralidades, locais que concentram serviços, comércio e moradias, além de uma identidade e história próprias. Por exemplo, a Lapa de Baixo, o Largo 13 de Maio e o Largo da Batata. Quando o poder público resolve investir nestas centralidades, conseguimos reequilibrar urbanisticamente a cidade como um todo. Quando idealizei o projeto pensei que Pinheiros poderia ser recuperado como centralidade.
Então, havia a intenção de uma renovação urbana com base em dois fatos: a chegada do metrô, que se estenderia até a Vila Sônia para atender as cidades vizinhas a oeste da capital, e a criação de um terminal urbano estruturado. Este, por sua vez, foi implantado próximo à Marginal Pinheiros. Dessa maneira, não havia como pensar em um projeto voltado apenas à área central do Largo da Batata. Por isso houve a expansão para as ruas do entorno.
Largo da Batata ainda em obras; demora incomoda urbanista / G1J
GP – As obras foram iniciadas em 2007 e devem se estender no mínimo até o final de 2013. Essa demora não incomoda?
TL – Não sei, não entendo por que tanta demora. No entanto, uma das razões é a falta de cobrança da população. Morei na Europa, eu sei quando a população reivindica e reclama quando o poder público não cumpre o que prometeu. Aqui temos uma obra de interesse da população, dos comerciantes e da iniciativa privada, mas todos são passivos. E não podemos dizer que os arqueólogos atrasaram o trabalho, pois eles estavam cumprindo a sua função.
GP – Quais as principais diferenças entre o projeto idealizado e o trabalho que está em execução no Largo da Batata?
TL – A principal diferença é não haver o antigo terreno da Cooperativa Agrícola Cotia incluído de fato no projeto. O local seria utilizado como um centro de eventos culturais, onde a comunidade do bairro o reconheceria como um espaço de integração social, que impulsionaria uma centralidade.
Fico incomodado também com o paisagismo. O que foi especificado no projeto não condiz com o que está sendo feito agora. Estava prevista uma praça com cobertura vegetal, onde o antigo eixo da Rua Cardeal Arcoverde seria formado por uma alameda de árvores pau-ferro. Este eixo simbolizaria a ligação do bairro com as rotas bandeiristas dos séculos passados.
Estava prevista também a Praça das Araucárias, entre a Avenida Brigadeiro Faria Lima e a Rua Baltazar Carrasco, com o plantio de araucárias, espécie de pinheiro que originou o nome do bairro. Mas para realizar este trabalho é preciso competência, o que não foi demonstrado até agora. Os exemplares que foram plantados não tinham estrutura adequada para resistir no local, além de não receberem a manutenção correta.
No que se refere à qualidade do piso, há muitos defeitos no serviço. O material é bom, o serviço não. A engenharia brasileira não consegue fazer um piso com pedra nobre, utilizado em piscinas?
Perspectiva do projeto de Tito Lívio, nem todos os itens foram viabilizados / divulgação
GP – Você se considera frustrado em relação ao que foi feito com o seu projeto?
TL – Em parte sim. Por outro lado eu não me sinto frustrado porque uma intervenção deste porte é inédita na cidade, pois até então ninguém havia mexido na cidade em locais onde há pessoas morando. Foram realizados fechamento e abertura de vias, execução de calçadões e remanejamento de infraestruturas, tudo isto foi inédito, pois mostrou que é possível abrir novos caminhos para ideias na cidade e mudar paisagens. Neste aspecto não considero frustrante.
Porém, aqueles lojistas da Rua Martim Carrasco, por exemplo, não precisavam esperar dez anos pelo fim das obras, eram para esperar no máximo três anos. Também acho que o poder público não demonstra interesse pelo projeto, independente da gestão. Este papel caberia à Subprefeitura de Pinheiros, pois é ela que herdará este espaço e será responsável por administrá-lo. Onde está a subprefeitura para perguntar sobre a qualidade do serviço que é feito na região? A população não se interessa pelo projeto, mas é justificável. Agora, o poder público não crítica os defeitos que aparecem. No projeto estão previstos mobiliários urbanos, árvores a serem plantadas e feiras de artes. Tudo isto será herdado pela administração regional.
GP – Apesar das falhas na execução da obra, qual o legado que o projeto deixará para a região?
TL – De certa maneira há uma reconversão urbana, pois o sistema de transporte público será reforçado e os fatores que degradavam a região serão retirados. Assim, haverá uma valorização do bairro, que proporcionará um andesamento local e beneficiará o comércio que conseguiu resistir às obras.
Aliás, algumas ruas foram especificadas no projeto como semi-pedestrializadas, com trânsito controlado para carga e descarga e edificações baixas para evitar a construção de prédios enormes. Tudo isso para manter a memória do bairro e o comércio de rua.
Entrevista: Diego Gouvêa
SUBPREFEITURA RESPONDE:
“A Subprefeitura vem acompanhando a finalização das obras e pronunciou-se, naquilo que ainda seria passível de alteração, sobre diversos aspectos do projeto. Por exemplo, o tipo de piso, o plantio de araucárias, a mudança de uso do espaço contíguo ao Mercado de Pinheiros, entre outros. Com relação à qualidade de execução de serviços e obras, não seria admissível interferência sobre o trabalho desenvolvido pela SPObras, que está amplamente capacitada tecnicamente e dispõe dos instrumentos contratuais adequados.”
Leia mais:
SPObras: Praça de Pinheiros recebe últimos reparos
SPObras: Contagem regressiva para entrega da nova Praça de Pinheiros
Arquiteto Tito Lívio: RENOVAÇÃO URBANA E MOBILIDADE: O PROJETO DO LARGO DA BATATA
Mais imagens:
Perspectiva de vista do novo Largo da Batata, já com as árvores / divulgação
Vista atual da Praça das Araucárias / G1J
Perspectiva com reconstituição do antigo eixo da Cardeal Arcoverde / divulgação
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