21 de novembro de 2013
Uma iniciativa boa praça
Movimento quer que as praças voltem a ser lugares de encontro, lazer e inclusão
Moradores ajudam a construir praça na cidade (Foto: Henrique Seckler)POR FERNANDA MIRANDA
“Mãe, eu quero comemorar meu aniversário na praça!” Quando a empresária Cecília Lotufo ouviu o desejo da filha, Alice, de fazer a sua festa de 4 anos numa área abandonada perto de onde moram, a resposta negativa foi imediata. Mas a menina insistiu tanto que a mãe concordou com a ideia, mas sob uma condição: todos os presentes, em vez destinados à aniversariante, seriam doações para revitalizar o lugar. Alice topou.
Para preparar a festa, a mãe foi atrás de apoio e teve vitória. Conseguiu com a subprefeitura de Pinheiros a realização da reforma do lugar, a Praça François Belanger, no Alto de Pinheiros, zona oeste, e várias colaborações, como a doação de lixeiras feita pelo supermercado da região. Assim, tudo ficou pronto para o grande dia: 14 de setembro de 2008, data que marca também o início de uma iniciativa que passaria a ser chamada de Movimento Boa Praça.
“Em um mês, a praça já era outra. Fiz pizza para 200 pessoas, e muitos vizinhos foram na festa. Os que não compareceram cantaram parabéns da janela dos prédios”, relembra Cecília. “E foi aí que reparei que um monte de gente, assim como eu, tinha desejo de fazer algo pela cidade.” A empresária acabou conhecendo vizinhos como o casal de jornalistas Carolina Tarrio e Ricardo Ferraz, que moram a cinco quadras dela e, coincidentemente, pensavam em formas de melhorar outra praça, mais próxima de onde moram – a Paulo Schiesari, na Vila Anglo Brasileira, zona oeste. “Juntamos nossas forças e começamos a pensar no nome do movimento, e ‘boa praça’ é um belo adjetivo, tem a ver com uma pessoa bacana e também com a praça. Decidimos colocar esse nome e passamos a nos articular como um grupo”, conta Carolina.
Quais são seus desejos?
Depois da “praça da Alice”, foi a vez da Paulo Schiesari ganhar uma cara nova. “Cada praça é diferente em suas origens, portanto são também diferentes em suas necessidades”, explica Carolina. Os problemas de uma praça como a da Sé, por exemplo, são totalmente distintos das dificuldades encontradas em uma menor de bairro. Para entender as carências da praça na Vila Anglo, o movimento reuniu os moradores da região, além de alunos, professores e diretores da escola estadual que fica em frente, a Professor Mauro de Oliveira.
“Conseguimos verba para a obra e, antes de a reforma começar, consultamos os moradores e outros que usariam a praça sobre os seus desejos e expectativas.” Aos alunos, foi solicitado um desenho ou uma redação da praça dos seus sonhos. Os pedidos variaram da construção de uma quadra poliesportiva (a da escola fechava nos finais de semana e as crianças não tinham onde brincar) até o pedido de uma garota por uma mesa na praça para fazer a lição de casa. Todas as ideias foram reunidas pelo arquiteto Eduardo Martini, que desenvolveu um projeto, depois entregue à subprefeitura.
Após meses de trabalho e pressão para que a obra tivesse fim, a praça finalmente foi inaugurada. “Hoje ela é usada para muitas atividades. As pessoas andam de skate, aprendem a pedalar, brincam no parquinho”, conta Carolina. Os bancos “antimendigos” doados pela prefeitura foram transformados em assentos confortáveis e com encosto. E o movimento, além de recuperar a praça, ainda criou outra: a Praça Antonio Resk, um antigo terreno baldio na rua Rifaina, que se transformou em área verde com horta comunitária. “Hoje eu não compro mais tempero. Pego na horta cebolinha, salsinha, alecrim, tomate, alface e rúcula”, diz Carolina.
Como parte da X Bienal de Arquitetura de São Paulo, o Movimento Boa Praça participa de um novo desafio em outro endereço: a Praça Amadeu Decome, na Lapa. “Geralmente as casas próximas às praças são valorizadas. Mas aqui a praça está tão abandonada que as pessoas estão vendendo seus imóveis”, comenta Cecília. Até o momento, a praça acolheu um piquenique e ganhou bancos. “Estamos iniciando um processo que faça sentido nesse território. O subprefeito da Lapa, Ricardo Pradas, colocou-se à disposição para nos ajudar.”
“As praças precisam de pessoas, mais do que as pessoas precisam de praças”
Toda vez que o jornalista Ricardo Ferraz dá palestras sobre o Movimento Boa Praça, ele costuma brincar que a frase acima é a sua edição de uma citação da escritora Jane Jacobs, ativista norte-americana conhecida por seus estudos sobre cidades: “Espera-se muito das praças. Longe de transformar qualquer virtude do entorno, longe de promover as vizinhanças automaticamente, as próprias praças é que são direta e drasticamente afetadas pela maneira como a vizinhança nelas interfere”. Citando a escritora, Ricardo lembra que, para mudar o entorno, é necessária a nossa ação e que só a partir do protagonismo do cidadão iremos retomar as praças e também os demais espaços públicos.
Para ajudar nesta causa, foi criado um projeto de lei, redigido pelo gabinete do vereador Nabil Bonduki (PT-SP), que propõe uma gestão compartilhada entre população e poder público para a administração das praças. O Boa Praça está colaborando neste processo. “Hoje é dito que existem entre 4 mil e 5 mil praças na cidade, mas equivocadamente consideram que um triângulo no meio de uma avenida é tão praça como a Por do Sol (no Alto de Pinheiros, zona oeste). Queremos que a prefeitura qualifique melhor esses espaços”, explica Carolina. “E que também permita às pessoas participarem do processo de construção das praças, que elas sejam ouvidas.”
Como forma de manter sua ação nos espaços públicos, o movimento organiza todo último domingo do mês um piquenique comunitário em uma das praças das quais o grupo ajudou a revitalizar. Excepcionalmente, o próximo será no 1º de dezembro na François Belanger. O objetivo é comemorar o piquenique número 50 do Boa Praça. Abaixo, você pode conferir um dos eventos realizado neste ano.
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