11 de novembro de 2013
Quem é quem na região: Movimento Boa Praça revitaliza lugares e ideias
Gazeta de Pinheiros, 08/11/2013
Nascida na região de Pinheiros, a empresária Cecília Lotufo, 38 anos, passou a infância perto da Praça das Corujas, onde havia uma pequena fazenda com galinhas, porcos, vacas e cavalos. Ela e seus vizinhos conviviam de maneira harmoniosa.
Na juventude, virou símbolo dos “caras-pintadas” em 1992, no impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Depois, se dedicou a uma ONG voltada ao consumo sustentável e foi morar na Europa. Voltou ao Brasil, para a região de Pinheiros, onde tudo começou.
Em 2008, por meio da revitalização de uma praça, Cecília teve a oportunidade de reviver suas experiências da infância e transmiti-las não só a sua filha Alice, mas a toda a comunidade do entorno, que passou a considerar o espaço público como um meio de integração entre os moradores da região e a cidade. Surgia então, o Movimento Boa Praça, do qual foi idealizadora. Confira toda a história:
Gazeta de Pinheiros – Como surgiu o Movimento Boa Praça?
Cecília Lotufo – Quando a minha filha Alice estava para completar 4 anos de idade, ela pediu para fazer o aniversário na Praça Françoise Belanger, que estava muito degradada. Eu mostrei para ela o gira-gira todo tordo, o balanço quebrado. E ela falou: “não, mamãe, a gente conserta”. Eu já vinha me incomodando com essa história de consumismo dos meus filhos, e eu disse que poderíamos consertar essa praça, mas para isso ela teria que deixar de ganhar vários presentes. Ela topou.
Então eu fui na Subprefeitura de Pinheiros e conversei com o chefe de obras, que gostou da ideia. Comecei a mandar e-mail para todo mundo pedindo doações para a praça. Aí foi aparecendo colaboradores. O primeiro que apareceu foi um amigo que se comprometeu a fazer a arte dos convites e com eles em mãos, eu pude bater na porta de toda a vizinhança. Graças à Prefeitura a gente conseguiu um parquinho novo e outras melhorias. A mobilização foi incrível, as pessoas me ligavam, me mandavam e-mail perguntado o que eu queria, o que elas podiam dar.
Mas, depois que passou um mês da festa, a praça já não era mais tão linda. O balanço já tinha quebrado, o mato já estava crescendo e isso foi me angustiando. Aí eu comecei a entender que não basta um evento pontual, a coisa precisa ser permanente.
GP – E o que foi feito para manter a praça?
CL – Eu procurei algumas pessoas, inclusive a subprefeitura para dialogar, e o feedback que eles me passaram foi muito positivo. Disseram que era a terceira vez que tentavam revitalizar a praça e que existe a responsabilidade do cidadão. Foi quando eu resolvi sair batendo de porta em porta em torno do local, falando para as pessoas que a gente poderia conversar sobre isso, pensar em como poderíamos transformar o espaço. Marcamos reuniões até chegar a esse embrião que é o picnic comunitário todo último domingo do mês. Foi uma decisão coletiva. Hoje a gente já fez o 49º evento.
GP – Hoje o Boa Praça também acontece em outros locais?
CL – Ampliamos para mais duas praças e percebemos que a François Belanger recebia pessoas um pouco mais distantes, não só das redondezas. Então ampliamos o Boa Praça para espaços que englobavam os bairros Vila Anglo Brasileira e Vila Ipojuca, região da Lapa.
GP – Qual é o tipo de público que o Boa Praça procura mobilizar?
CL – O nosso público alvo é extenso. Temos o que precisa da praça, mas não tem. Temos o que tem a praça e não usa e a gente tem o que não quer saber da praça e odeia esse uso. Há de tudo. Temos pessoas que moram na frente da praça e nunca foram para lá, isso é normal.
O morador de Pinheiros, geralmente de elite, também é nosso público alvo. Nós achamos que esse morador precisa da praça, pois por mais que ele tenha acesso ao clube e a piscina do prédio, ele tem que aprender a conviver com a diferença, ele precisa se refazer na cidade.
Bate papo
Nesta sábado (9), das 17h às 19h, o Movimento Boa Praça e o coletivo cultural Walking Gallery promovem no Sesc Pompeia (Rua Clélia, 93 – Lapa) um bate papo sobre a ocupação do espaço público, arte e intervenções na cidade. Informações: facebook.com/sescpompeia.
No dia 1º de dezembro acontece o 50º evento do Movimento Boa Praça em parceria com o Instituto Alana, na Praça François Belanger, em Alto de Pinheiros. Toda a comunidade está convidada. Informações:boapraca.ning.com
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